Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

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Outras edições

Nos palcos da vida

Teatro

Arte de encenar deve ser encarada como um importante instrumento de reflexão e transformação social

Aos 12 anos, o ator Leonardo Lessa encontrou a profissão que hoje o conduz pelos palcos, atuando em montagens diversas, e por escolas, onde ensina que o teatro é uma forma de expressão que contribui para a formação e transformação do universo infantil e dos adolescentes. Mesmo com uma expressiva bagagem de encenações, Leonardo decidiu fazer o vestibular para o curso de Teatro (Artes Cências) da UFMG. O que o levou à Universidade foi a busca por outro tipo de bagagem, a teórica que, acreditava, em união com a prática, daria força e consistência à reflexão do próprio fazer.

Eber Faioli

Cena da peça Nossa Pequena Mahagonny, montada pelo Gruppa

Aos 22 anos, formado no ano passado, ele conseguiu o que pretendia, e muito mais. Além da reflexão, encontrou espaço aberto para experimentar, criar e para desenvolver habilidades como ator, além de se engajar em atividades que considera essenciais na profissão. "A dimensão política e social deve caminhar ao lado da cultural. Penso que é também nossa função tocar em algumas feridas", salienta.

Projeto pedagógico Na Universidade, Leonardo não deixou de lado a prática que já mantinha. Ao contrário, tratou de se integrar ao Grupo de Pesquisas Práticas em Atuação (Gruppa). Formado no âmbito do curso, o Gruppa tem a criação artística como metodologia para a aprendizagem técnica e prioriza encenações que tenham uma relação de proximidade e provocação com o público.
Arquivo pessoal

ANA FARIA encontrou-se na flexibilização. Ela faz formação complementar na Escola de Música

Com o Gruppa, Leonardo encenou Os Cupins, inspirado no texto Cartas aos Atores, do francês Valère Novarina, em plena Praça Sete, na região central de Belo Horizonte. O último trabalho dele no Gruppa foi Nossa Pequena Mahagonny, baseado na obra Ascensão e Queda da Cidade de Mahagonny, de Bertolt Brecht. A peça foi levada ao Simpósio da Sociedade Internacional Bertolt Brecht, em Berlim (Alemanha), antes mesmo de estrear no Centro Cultural UFMG.

Depois de concluído o Bacharelado, Leonardo cursou a Licenciatura, e ressente-se de uma maior integração do Teatro com a Faculdade de Educação (Fae). Segundo ele, o vínculo precisa estabelecer-se com mais afinco, pois a presença do ator como professor, no mercado de trabalho, ainda tem que ser fortalecida. "É fundamental que o profissional tenha consciência da especificidade do trabalho, para que possa lutar por seus direitos", diz ele. "Não é sair batendo a panela. Mas o professor tem que se posicionar, não fazer concessões além da medida. É um processo lento, porém essencial para que a gente veja o teatro assumido como projeto pedagógico."

Professor em três escolas do Sistema Arquidiocesano, Leonardo assinala que este é um mercado de trabalho em aberto, mas que enfrenta muitas dificuldades. São poucas as instituições de ensino, assinala, que dão condições reais de trabalho ao profissional, pois, em grande parte delas, o teatro é apenas uma atividade de entretenimento.

Com as opções de Bacharelado e Licenciatura, o curso prepara profissionais que vão seguir não só a carreira artística, mas também serão agentes culturais e professores em escolas técnicas, do ensino fundamental e médio, em espaços culturais e sociais, em Organizações Não-Governamentais - locais variados em que o teatro é tratado como uma alternativa de aprendizagem e de formação do cidadão.

Função transformadora

As experiências anteriores no teatro são valorizadas nos processos de seleção e, por isso, o candidato submete-se a uma prova de habilidade cênica. Para Ana Faria Hadad Vianna, 25 anos, primeiro lugar entre os aprovados no curso no vestibular de 2003, estas não foram exigências difíceis de ser vencidas. Entretanto, Ana, que tem longa história na arte de interpretação, iniciada aos 13 anos, atualmente no 5o período, afirma que o processo seletivo não consegue garantir uma certa homogeneidade entre os alunos, o que considera importante no transcorrer do curso.
Estado de Minas / Auremar Castro

LEONARDO LESSA, primeiro à esquerda, defende uma maior aproximação entre o Teatro e a Educação

"Alguns entram com pouca prática, mas conseguem se dedicar bastante e se nivelam à turma", admite. Para ela, que fez cursos técnicos de ator na Fundação Clóvis Salgado, durante três anos, e tem ampla experiência na cena cultural artística da cidade, fazer o curso de Teatro foi a forma que encontrou para se aprofundar na formação artística.

"Temos que entender, discutir e refletir sobre diversos aspectos que compreendem o universo do ator", diz Ana, que encontrou na flexibilização do curso um caminho bastante especial, que atende interesses antigos, como a incorporação da música à sua prática teatral. Flautista e aluna do curso de Musicalização da Fundação Educação Artística, ela faz formação complementar na Escola de Música, completando seu currículo com disciplinas como Técnica Vocal, Música e Cena, História da Música Popular Brasileira.

A iniciativa de Ana, diz a professora Rita Gusmão, Coordenadora do Colegiado de Curso de Teatro, acabou por adiantar uma das opções de formação complementar que o curso pretende apresentar, na reforma curricular, como alternativa para o aluno. Além da área de Música, estão previstas trajetórias em Educação/Pedagogia, Artes Visuais, Filosofia, Antropologia, Letras e Comunicação.

A reforma curricular tem como eixo o estímulo à reflexão. Este é um ingrediente que faz parte do curso desde a criação, presente em todos os semestres, acompanhando os estudos teóricos e de interpretação, a preparação corporal e de voz. No primeiro ano de Teatro, explica Rita Gusmão, o aluno tomará contato com os fundamentos da linguagem, da arte da atuação e da teoria em torno do textos em que o teatro se organiza.

As técnicas específicas de atuação serão trabalhadas com o aluno durante quatro semestres, a partir do 3o período, até que ele inicie o contato com projetos experimentais de criação cênica, com práticas de palco, nas mais variadas linguagens utilizadas ao longo da história do teatro.

No último semestre, o aluno põe em cena um projeto individual. "Ele elabora e executa o projeto", explica a professora, destacando que, no caso dos alunos de Licenciatura, o desafio consiste em formatar um projeto de condução de ensino. Rita Gusmão lembra que é muito importante para a profissão o amadurecimento do ator a partir da consciência de que o teatro tem uma função social, como atividade tanto cultural quanto pedagógica.