Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular
Com o dedo na calculadora
O número de atuários formados em Minas Gerais supera os dedos das mãos. Até bem pouco tempo, isso era impossível, mas, no ano passado, a UFMG formou a primeira turma do curso de Ciências Atuariais, e também uma universidade particular foi responsável pela colocação de novos profissionais no mercado.
O atuário trabalha com o gerenciamento de riscos financeiros, principalmente na área de seguros (de vida e de bens), aposentadorias, pensões, benefícios, planos de saúde e indenizações. É ele, explica o professor Renato Assunção, que calcula quanto uma empresa seguradora deverá cobrar, por exemplo, por um seguro de automóvel.
É ele também que calculará o quanto uma pessoa interessada em fazer parte de fundo de pensão terá que pagar mensalmente para obter, de acordo com as características pessoais e pretensões de renda futura, uma aposentadoria depois de um determinado tempo de contribuição. Esses e outros tipos de cálculos de estatística, de probabilidade, de matemática financeira e de teorias de investimento são ensinados basicamente só no curso de Ciências Atuariais.
Banespa/Divulgação![]() |
Ainda é pequena a presença do atuário no setor financeiro, como nas bolsas de valores e em instituições bancárias, avisa Assunção, coordenador do Colegiado de Curso. Ele salienta, entretanto, que este é um mercado em expansão e de muita importância. "Os bancos contratam profissionais para trabalhar com risco de crédito, que é uma técnica estatística que permite, a partir da análise dos dados da empresa solicitante, a verificação da viabilidade do empréstimo. Esse tipo de cálculo, que é basicamente de risco, é atividade natural para o atuário", explica.
Segundo Assunção, apesar de poucos profissionais formados em Minas Gerais, o mercado de trabalho no Estado tem restrições, pois as sedes de seguradoras, empresas de previdência privada e fundos de pensão estão instaladas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas isso não quer dizer que o formado ficará sem trabalho se decidir ficar na capital mineira.
O peso da experiência Serviço é o que não falta, garante o gaúcho Joel Garcia, 29 anos. Formado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele foi transferido para Belo Horizonte, há quatro anos, quando trabalhava na filial da Minas Brasil Seguradora, em Porto Alegre. Aqui, o desafio era a implantação da área de previdência na empresa. Logo depois, assumiu todo o setor de atuária da companhia, englobando os serviços de seguro e previdência.
Joel divide seu tempo com aulas na UFMG e na Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG) e ainda presta assessoria a prefeituras e realiza perícias a pedido da Justiça. Ele explica que, como no Estado não existe a tradição do profissional, os mais experientes acabam ocupando um espaço privilegiado. No trabalho do atuário os números do negócio ficam totalmente expostos. Por isso, os recém-formados podem encontrar dificuldades de inserção em alguns locais. Nada que possa desanimá-los, garante Joel. Para Olívia Cristiane Minardi, 21 anos, a primeira oportunidade apareceu em São Paulo, uma semana depois de pegar o canudo na UFMG.
Desde o início do ano, ela trabalha na recém-criada Unidade Atuarial Corporativa do Bradesco Seguros. O setor está sendo montado, explica Olívia, e por isso ela e outros funcionários estão em treinamento. "Estou gostando muito, principalmente porque vou ter a chance de aprender sobre algumas áreas que tenho curiosidade e que, na UFMG, não eram muito ressaltadas", diz.
Olívia lembra que optou pelas Ciências Atuariais porque queria um curso com formação básica em Ciências Exatas e que não fosse Engenharia. "Uma amiga conheceu a área, me falou e eu logo gostei", conta. Entretanto, a empatia com o curso não foi imediata. "Estranhei, mas também não conhecia mesmo muito bem do que se tratava", argumenta. Além disso, ela acredita que a sua turma, por ser a primeira, sentiu de maneira muito forte tanto as vantagens quanto as desvantagens do pioneirismo.
"Sentíamos que muitas coisas ainda estavam se ajeitando. Como era a primeira experiência, era natural que surgissem dúvidas sobre o jeito certo ou errado de conduzir o curso", ressalva Olívia, destacando que, no trabalho, tem percebido a sólida formação que adquiriu. A formação do atuário nas Ciências Exatas e Sociais Aplicadas é muito forte. O curso é bastante calcado nas áreas da Estatística, Ciências Econômicas (especialmente Demografia), Administração e Ciências Contábeis.
Surpresas O gosto especialmente pela Matemática e as notícias que davam conta de um mercado de trabalho aberto atraíram Petrusca Arrieiro Cardoso, 21 anos. "Eu também me interessava pela parte econômica e
gerencial e achei que o curso teria esses ingredientes", ressalta. No 7o período, Petrusca diz que o curso é "mais ou menos" o que imaginou, com algumas surpresas. Uma delas foi o fato de depender muito de bibliografias estrangeiras. "O candidato tem que se preocupar com o inglês e, se ainda não sabe, deve começar a estudar assim que entrar no curso", afirma.
De qualquer forma, ela não entende que o domínio de outra língua seja uma restrição ao curso, porque, explica, o inglês necessário é técnico e os alunos se viram para entendê-lo. Mas para a alegria de muitos estudantes, a própria Petrusca trabalhou num projeto de pesquisa que ajudará aos futuros colegas. Ela auxiliou o coordenador do curso na realização de um livro-texto e de exercícios de Ciências Atuariais.
Eber Faioli![]() PETRUSCA CARDOSO: de olho na saúde financeira das empresas |
Há oito meses, ela faz estágio na Acser Minas, uma empresa de consultoria na área de planos de saúde. No trabalho, Petrusca lida com cálculos e estátisticas que garantem a saúde financeira das empresas para a prestação dos serviços.
A área de planos de saúde, ressalta Petrusca, não é muito explorada no curso da UFMG, que trabalha mais especialmente com previdência e seguros. Essa é uma outra característica importante das Ciências Atuariais. As áreas são bastante diferentes entre si e, portanto, o aluno precisa se preocupar com a continuidade de estudos. Até mesmo a pós-graduação na área é uma novidade. O único curso de Mestrado no país é o da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde já estão inscritos três ex-alunos da UFMG. Segundo Assunção, os profissionais fazem, normalmente, pós-graduação em áreas correlatas, como Estatística e Demografia.
A profissão de atuário é regulamentada no país e para exercê-la os profissionais graduados precisam ser registrados no Instituto Brasileiro de Atuária que, a partir deste ano, condicionará a liberação do registro à uma prova de conhecimento técnico, semelhantemente a exigência da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em relação aos graduados de Direito.