Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

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Outras edições

Refletir para transformar

Filosofia

A Filosofia é um instrumento efetivo de compreensão do homem, das sociedades e do mundo

O curso atrai pessoas inquietas, curiosas e, sobretudo, dispostas à reflexão. Na mira dos filósofos temas antigos, como o surgimento da democracia, e atuais, como a utilização de células tronco pela ciência médica. A professora Patrícia Kauark Leite, coordenadora do Colegiado, lembra que o curso — Bacharelado e Licenciatura — está estruturado a partir da história da Filosofia Grega, Medieval, Moderna e Contemporânea e de disciplinas como Lógica, Teoria do Conhecimento, Estética, Ética, Ontologia, Filosofia das Ciências e Antropologia Filosófica. Com um grande leque de optativas, a Filosofia oferece também estudos específicos de autores ou temas próprios à ciência.

Flexibilizado em 2001, o currículo prevê formação complementar nas áreas de Exatas, Biológica, Artes e Humanas. Ao tentar responder perguntas que outras ciências não respondem — como o que é o tempo além de um espaço cronológico; o que é número além das equações matemáticas _, a Filosofia in
duz o pensamento lógico e abstrato. "O aluno desenvolve a capacidade de articular diferentes dimensões do conhecimento, sempre partindo da pluralidade, das diferenças, das experiências", assinala Patrícia Kauark.

Foca Lisboa

A Filosofia tem, por exemplo, muito a contribuir com o destino de pesquisas científicas na área médica

Com grande poder de crítica e de argumentação, o filósofo é alguém que percebe que qualquer tema pode ser analisado por diversos ângulos, e que não existe uma posição única, certa ou errada, verdadeira ou falsa. Também por isso, esclarece a professora, o curso recebe muitos alunos de outros cursos da UFMG e aparece como a segunda opção profissional para pessoas que esperam encontrar na Filosofia meios de compreender o próprio fazer no contexto histórico e das relações humanas.

Rumos do fazer A demanda pela Filosofia é crescente, assinala a coordenadora do curso, e está configurada nas discussões que perpassam o cotidiano das pessoas, das corporações e dos governos. Entretanto, a professora da UFMG acredita que o mercado de trabalho da Filosofia ainda restringe-se à academia.

Com Mestrado em Educação Popular e Doutorado em Psicologia Social, a filósofa e professora Neuza Beatriz Pereira, 50 anos, esquenta o debate. Para ela, a Filosofia quer saber para que serve a Filosofia. "Eu aprendi, ao longo dos anos, que existe uma Filosofia prática", sustenta, destacando a presença de profissionais que, do mesmo modo que ela, têm um tipo de inserção no mundo do trabalho que vai além das salas de aula.

São do domínio da Filosofia questões como ética, estética e política que fazem parte, a todo momento, do debate na sociedade e, portanto, de ações de governo, de empresas e de organizações privadas e públicas. "Então, por que caberia à Filosofia um papel só acadêmico?", questiona. Consultora no Instituto Félix Guattari - cujo trabalho de pesquisa e formação profissional na área da Psicanálise estende-se a intervenções e consultorias junto a movimentos sociais, corporações e organizações diversas -,Neuza afirma que está acontecendo um diálogo, que parte da Filosofia em direção as outras áreas, e das outras ciências em direção à Filosofia.

A suspensão de fronteiras, destaca ela, sinaliza um novo espaço de trabalho. "A Filosofia se propõe trabalhar com as questões epistemológicas, paradigmáticas, de produção do conhecimento de outras áreas, mas as outras áreas hoje já têm a própria epistemologia e hermenêutica. Cabe à Filosofia encontrar um outro caminho, pensar o próprio papel no mundo, pensar no filósofo enquanto um profissional comprometido com as transformações por meio de uma prática profissional".

Rigor científico Segundo Neuza, os campos da Psicologia, da Educação e da Saúde destacam-se na interface com a Filosofia. E garante que o mercado de trabalho ampliado para o filósofo já existe. Recentemente, exemplifica, ela esteve à frente de uma equipe multidisciplinar que atuou no Projeto Criança Esperança, da Rede Globo, no Aglomerado de Vilas e Favelas da Serra, trabalhando em oficinas de socialização e artes para jovens e na capacitação de educadores.

O problema, diz Neuza, é que existe uma dificuldade entre os próprios profissionais de perceber espaços prováveis de atuação. "Eu busquei o diálogo com outras áreas e posso dizer que este é muito bem aceito. O importante é que o diálogo ocorra e que o filósofo não se perca, mas reconheça, na sua ação, os paradigmas filosóficos", salienta.

Pontes do cotidiano Aluno do 7o período do Bacharelado, Eduardo Coutinho, 23 anos, já descobriu que a Filosofia estabelece ponte direta com as questões do cotidiano. Bolsista do Programa Especial de Treinamento (PET), ele participa de um grupo de alunos pesquisadores que promove debates, com a participação de profissionais de outras áreas, sobre temas de interesse da sociedade.
Foca Lisboa

"O curso de Filosofia não promete transformar você em sábio. Ele oferece as ferramentas para que você se torne um autodidata e siga em frente buscando o conhecimento", determina EDUARDO COUTINHO

Segundo Eduardo Coutinho, o curso de Filosofia gera uma produção acadêmica e cultural intensa e estimulante. São grupos de estudo e discussão, seminários, palestras e encontros que ocorrem com bastante freqüência e, não raramente, com a participação de convidados estrangeiros. Os eventos são uma extensão das salas de aula, onde, salienta, nem sempre são possíveis muitas discussões.

Desde o segundo período, Eduardo dedicou-se a atividades de pesquisa e participou de grupos que debatem, por exemplo, a Filosofia no Brasil e a presença da ciência na literatura nacional, a partir de autores antigos, como Padre Antônio Vieira, mas também de nomes contemporâneos, como os de Guimarães Rosa e Clarice Lispector. Segundo Eduardo Coutinho, a escolha da Filosofia deu-se com determinação. Quando decidiu conhecer o curso, era estudante de Medicina. Durante um ano, fez matérias no curso de Filosofia e teve a certeza: não seguiria a carreira de médico e faria novo vestibular.

"Estou no meu lugar", diz Eduardo, sem qualquer arrependimento, apesar de admitir que o mercado de trabalho o preocupa. Aliás, este é, para ele, um dos motivos para as desistências que ocorrem no curso. "Existe mesmo a idéia de que só temos lugar como professores", afirma ele, que pretende fazer Mestrado e Doutorado e dar aulas em cursos superiores.