Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular
Inúmeras fronteiras
Para Mateus Carvalho Monteiro, 22 anos, quem pretende se dedicar à Química não deve esperar facilidades. Em contrapartida, pode contar com um curso estimulante e que abre diferentes fronteiras de trabalho. As maiores exigências, diz o estudante, são simples: "Gostar da ciência e, claro, estudar muito".
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Aluno do 7o período do Bacharelado, Mateus optou pela pesquisa para conhecer melhor a Química e suas aplicações. As experiências nos laboratórios do curso têm-lhe indicado caminhos. "Eu pretendo tentar uma colocação nas indústrias, porque gosto de desafios, mas não quero abandonar a área acadêmica e, por isso, farei o Mestrado", planeja.
As salas de aula são a primeira opção de trabalho. Mas o químico é essencial também em indústrias e em prestadoras de serviços, públicas ou privadas. Além disso, órgãos e entidades que lidam com o meio ambiente necessitam dos químicos para análise da poluição ou identificação de matérias orgânicas ou minerais no solo.
Física e Matemática
A amplitude do mercado de trabalho cativou Mateus Carvalho. Porém, ele não deixou de estranhar quando, ao entrar no curso, percebeu o tanto que teria que estudar outras ciências para se sair bem em Química. Física e Matemática são disciplinas que têm um peso importante no curso. "Não tem jeito, não dá para fugir. Elas são ferramentas para o químico", assinala.
Bolsista de Iniciação Científica, Mateus, atualmente, desenvolve atividades no Laboratório de Química Orgânica, com interesse voltado para a Biotecnologia. Ele investiga fungos, em busca de substâncias que possam ser utilizadas na produção de fármacos. Antes, ele passou pelo Laboratório de Físico-Química, pesquisando "membranas" de polímeros que podem ser utilizadas em filtros industriais.
Eber Faioli![]() "É preciso aproveitar a Universidade. Há muita coisa para se ver e fazer, além das próprias aulas e dos laboratórios", recomenda RANGEL DUTRA, contando que começou a estudar inglês num curso oferecido pelo Centro Acadêmico do curso de Ciências Sociais. |
"A indústria é uma área de muitas aplicações e para quem gosta de resolver problemas, de enfrentar desafios, é um lugar ideal", acredita. Entusiasmado, Mateus lembra que o químico pode ainda enveredar-se para consultorias, prestando serviço para empresas em áreas diversas, como mineração ou saneamento.
Colega de Mateus no Bacharelado, Rangel Caio Quinino Dutra, 22 anos, partiu também para a pesquisa, conciliando o trabalho nos laboratórios com o interesse pela computação. Quando estava no 5o período, ele optou pela Química Teórica e, em vez de se debruçar em uma bancada de experimentos, ficou diante de um computador simulando "choques entre moléculas".
"A intenção é gerar conhecimento que será utilizado, por exemplo, na fabricação de produtos", assinala Rangel. Atualmente, ele se dedica, no Laboratório de Química Molecular, a pesquisa para desenvolvimento de material magnético que não seja de óxido metálico, mas a base de um material semelhante ao plástico. "A vantagem é que este imã apresentaria flexibilidade e transparências", explica.
Rangel está de olho no Mestrado, porém sua intenção é alçar vôo e, de preferência, estudar no exterior. No Brasil, argumenta, as pesquisas em indústrias são muito mais difíceis, porque poucas querem investir. "Elas preferem comprar pronto, por isso, penso em trabalhar fora do país. Estudar fora, é mais fácil conseguir o que quero", afirma. Esse semestre, ele fez um curso de Patentes e Propriedade Intelectual.
Início Precoce
O mercado de trabalho é algo que preocupa há bastante tempo Helga Gabriela Aleme, 21 anos, aluna do 7o período de Licenciatura. Mesmo tendo conquistado vaga como professora de Química desde quando estava no início do curso, Helga diz que não se ilude com esse tipo de facilidade que a profissão oferece. "Tem muita vaga, mas o professor é mal remunerado e não é valorizado", pondera.
Eber Faioli![]() Horas e horas de estudo fazem parte da rotina da aluna e, também, professora HELGA ALEME |
Helga começou a dar aulas num "cursinho" pré-vestibular quando ainda cursava o 3o período. Quando estava no 5o, já lecionava em um colégio em Betim e, desde janeiro passado, é professora em Caeté, município próximo a Belo Horizonte. Segundo a Coordenadora do Colegiado de Curso, professora Amélia Maria Gomes do Val, a trajetória de Helga é semelhante à de muitos outros alunos da Química.
Não existem no estado, e nem mesmo na capital, professores formados em Química em número suficiente para assumir as salas de aula nos ensinos fundamental e médio. Por isso, o próprio governo estadual permite que alunos desse curso dêem aulas antes de formados, concedendo-lhes uma espécie de registro, que antecipa sua entrada no mercado de trabalho. Helga preferiu a Licenciatura exatamente por causa desse tipo de oportunidade, mas a experiência aguçou a crítica em relação às condições de trabalho.
Ela já se decidiu pelo Mestrado assim que concluir a Licenciatura e, caso não consiga passar nas provas, voltará para o curso de graduação para completar as disciplinas do Bacharelado. Para Helga, o curso de Química é muito difícil e requer inúmeras horas de estudo depois das aulas. Como aluna e professora, ela sofre em dobro: "Passo muitos finais de semana só estudando", garante.
Eber Faioli![]() MATEUS MONTEIRO: paixão compartilhada entre a indústria e a pesquisa |
O curso oferece Bacharelado e Licenciatura no horário diurno e apenas Licenciatura no noturno. A Química passa por uma reforma curricular, que deve entrar em vigor já no próximo ano. A professora Amélia Maria lembra que uma das principais mudanças diz respeito à carga horária exigida do aluno de Licenciatura. Atualmente, estágio e prática de ensino somam 300 horas, porém esse número irá subir para 400 horas para cada uma das atividades.
No caso do Bacharelado, poucas definições mudam, mas o estágio passa a ser obrigatório e o aluno deverá realizá-lo em empresas, instituições de pesquisa, laboratórios de análise, órgãos públicos e outros. "O universo é grande", assinala, Amélia Maria, lembrando que a diversificação da profissão ajuda na inserção do aluno. A flexibilização na UFMG está, obviamente, se refletindo também na Química e os alunos terão para escolher variados tipos de formação complementar que, entretanto, ainda não foram definidos.