Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

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Outras edições

Conexões do tempo

História

Historiador, um observador atento à realidade, refletindo e apontando conexões entre passado e presente

Livros, cartas, arquivos, imagens, objetos, relatórios... tudo isso, é verdade, pertence ao universo de estudo dos historiadores. Mas esse mergulho no túnel do tempo acontece para que o historiador, por meio de rastros e vestígios, possa analisar, interpretar e compreender o papel dos homens na definição dos caminhos da sociedade.
Márcio Santos

Historiador procura decifrar os vestígios que encontra pelos caminhos para entender a trajetória da humanidade. Na foto, expedição percorre trecho da Estrada Real

"Ele é um profissional atento às transformações das sociedades mas, também, às permanências", assinala a professora Kátia Gerab Baggio, coordenadora do Colegiado de Curso de História da UFMG, esclarecendo que a Universidade ajudará o futuro historiador a desenvolver o olhar crítico, questionador e, sobretudo, voltado para a observação e a análise profundas. No curso, o aluno fará um passeio temporal, conhecendo um pouco de tudo — História Antiga, Medieval, Moderna, Contemporânea, da Arte, do Brasil, das Américas e outras.

E foi o estágio nos arquivos da cidade de Ouro Preto que serviu de guia para Ivana Parrela. Quando concluiu o curso de História, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), no final da década de 80, já estava totalmente segura da trilha que seguiria. Partiu para São Paulo em busca de especialização e, lá, iniciou uma carreira entre documentos e mais documentos. Públicos ou privados, os arquivos são, atesta Ivana, uma espaço privilegiado de trabalho para os historiadores. "Poucos ainda enxergam essa possibilidade, mas eu não poderia estar mais satisfeita. Imagine o que é para um historiador estar num lugar cercado de fontes", diz.

Interpretação crítica Natally Vieira Dias, 24 anos, nunca pensou em fazer outro curso. "Sempre fui muito curiosa, queria entender com detalhes os acontecimentos", diz, identificando seu despertar para a História. Foram três vestibulares antes da conquista da vaga, e ela afirma que ainda teve que passar por um período de adaptação no curso, levando algum tempo para compreender uma nova lógica de encarar os estudos. "Estava acostumada à história factual do colégio e, aqui, o que priorizamos é a interpretação crítica dos acontecimentos."
Eber Faioli

NATALLY DIAS não vê com bons olhos a distinção que o próprio curso e o mercado de trabalho fazem entre o professor de ensino fundamental e médio e o pesquisador. "Para mim, as duas atividades têm que andar sempre juntas", defende

Depois da especialização em Organização de Arquivos, na Universidade de São Paulo (USP), Ivana Parrela trabalhou no Arquivo Municipal, no Museu Paulista e, há 13 anos, retornou a Belo Horizonte. Ocupa, atualmente, o cargo de diretora do Arquivo Municipal, de que está licenciada para cursar o Doutorado. Segundo ela, quando o profissional identifica o que realmente gosta, deve perseguir esse objetivo. Museus e arquivos, por exemplo, nunca foram o forte do Brasil, mas nem por isso afastaram a ex-aluna da UFOP do seu objetivo profissional.

A coordenadora do Colegiado de Curso de História da UFMG concorda que a maioria dos profissionais ainda se ocupa das atividades mais tradicionais, mas nem por isso menos relevantes, como dar aulas ou realizar pesquisas, mas ressalta que, como em todas as regras, as exceções existem. "O mercado de trabalho também muda quando o próprio profissional descobre suas possibilidades", argumenta a professora Kátia Gerab Baggio.

Para ela, definir áreas de interesse tem uma importância muito grande na História. Como o Magistério ainda é a área que mais absorve historiadores, a Licenciatura lidera a opção dos alunos. Quem faz vestibular para o curso diurno terá tanto a Licenciatura quanto o Bacharelado (que forma profissionais mais voltados para a pesquisa e para o ensino de terceiro grau) como alternativas, mas à noite, o curso oferece apenas a Licenciatura.

Como forma de garantir maiores possibilidades no mercado de trabalho, muitos alunos do Bacharelado solicitam, após a conclusão da primeira modalidade, continuidade de estudos para cursar a Licenciatura, mesmo que não estejam pensando, inicialmente, em ser professores do ensino fundamental e médio. "É exatamente por causa das chances de colocação menos evidentes para quem tem apenas o Bacharelado", explica a coordenadora da Graduação.

Encruzilhadas do destino

Uma busca de muito fôlego, persistência e interesse intelectual marcaram a jornada de Márcio Roberto dos Santos, 42 anos, em direção à História. Formado em Filosofia, a primeira tentativa de pós-graduação foi em História, em 1988. "Eu sentia falta de um conteúdo mais concreto para minhas reflexões", assinala. Naquele ano, Márcio iniciou o Mestrado na USP, no Programa de Pós-graduação em Integração da América Latina, mas desistiu. Seu projeto de pesquisa tratava da reforma agrária sandinista na Nicarágua, mas a mudança de governo e de direção política nesse país, em 1990, jogou um balde de água fria nas pretensões do pesquisador.
Eber Faioli

Projeto do departamento de História da UFMG pesquisa tradições republicanas de Minas Gerais

A relação com outras ciências é intensa e, por isso, a flexibilização torna-se uma vantagem enorme no curso. É bastante comum a busca de estudos complementares nas áreas de Letras, Belas-Artes, Ciências Sociais e Filosofia. "O currículo está menos engessado e os alunos podem perseguir as áreas de interesse", pondera a coordenadora do Colegiado de Curso da UFMG.

Mas o namoro de Márcio dos Santos com a História não havia se encerrado. Uma outra "aventura" reacendeu a chama. Há 11 anos, um amigo convidou-o para percorrer a Estrada Real. Naquela época, esse era um assunto sem a menor projeção. "Fui por curiosidade de andarilho. Fizemos vários trechos, sempre estudando e lendo sobre antigos viajantes, anotando tudo, fotografando. O que era uma pesquisa livre, intuitiva, ganhou força e começamos a viajar mais, dessa vez de carro, seguindo mapas", lembra, observando que "colocar o pé na estrada me deu uma percepção nova do conhecimento histórico".

Márcio Santos decidiu, em 1999, fazer um curso de especialização em "Formação Política e Econômica da Sociedade Brasileira", e o material coletado no desbravamento da Estrada Real inspirou a monografia final, transformada depois em livro, uma publicação que se tornou referência para estudiosos do trajeto. Pouco tempo depois, em 2001, Márcio envolveu-se novamente numa pesquisa de campo. Funcionário da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, ele foi o representante da instituição numa expedição pelo rio São Francisco e o que era para ser um relatório da viagem tornou-se uma pesquisa sobre o patrimônio cultural e natural do rio.

A experiência nessa viagem motivou Márcio a investir novamente no Mestrado do curso de História da UFMG. Sua dissertação, de 2003, tratou de um aspecto da ocupação do Médio São Francisco. "Eu, que gosto tanto de paisagem, de natureza, do espaço, me redescobri no contato com arquivos, com documentos, com pesquisas", constata o coordenador do Núcleo de Pesquisa da Escola do Legislativo. Recentemente, Márcio foi aprovado no Doutorado, na USP.