Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

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Outras edições

Para o Brasil voltar a sorrir

Odontologia

Condições socioeconômicas determinam mudanças na Odontologia. Profissional deve comprometer-se com as necessidades básicas de saúde do país

Em janeiro passado, a aluna do 7o período de Odontologia da UFMG Graziele Maciel Mattos, 23 anos, passou por uma experiência inesquecível. Durante 15 dias, ela e dezenas de estudantes de seis instituições de ensino superior do país visitaram a Amazônia, na primeira viagem de retomada do Projeto Rondon, famoso nas décadas de 70 e 80. Graziele viu comunidades inteiras sem qualquer tipo de assistência e que convivem com urubus como se fossem animais domésticos. Para ela, entretanto, a marca que ficou não foi a da tristeza: "O que senti na pele foi a responsabilidade do profissional de saúde neste país que, de tão grande e carente, tem lugares em que a gente nem pode imaginar o estilo de vida população".

Para Graziele, foi difícil e até frustrante perceber que naqueles dias não seria possível fazer muito pelas pessoas que conheceu. Os estudantes, que deverão voltar no próximo período de férias, fizeram um levantamento geral das condições de saúde de Tefé, um dos maiores municípios do Amazonas, onde só se chega de barco, pelo rio Solimões ou de avião. "O que pude concluir é que a malária não é nem de longe o maior problema da Amazônia, como a gente sempre ouve falar. Não existe saneamento básico, tratamento de esgoto ou de lixo", diz ela, que participou da viagem com outros três representantes da UFMG.

Eber Faioli

Dados do Censo de 1998 e de um levantamento nacional sobre a saúde bucal do brasileiro, concluído em março passado pelo Ministério da Saúde, estampam uma realidade dramática: 30 milhões de pessoas nunca foram ao dentista, 20% da população já perderam todos os dentes e 45% dos brasileiros não têm acesso regular à escova de dentes.

A viagem aguçou em Graziele uma preocupação que, segundo ela, sempre percebeu em muitos dos professores da UFMG e que, em grande parte, define a Faculdade Odontologia. "Temos muito a fazer pela população carente. Os problemas dos grandes centros se repetem na maioria das cidades e é disso que temos que nos dar conta", assinala.

Aprendizado social Graziele conta que os últimos anos na Faculdade de Odontologia mudaram sua maneira de ver a profissão. "Não penso mais, como antes, só em montar um consultório. Quero conhecer mais a vida do brasileiro, porque sei que só 10% da população tem acesso ao dentista. Então, quem ficar preso ao consultório só vai conhecer uma parte da realidade", conclui.

Segundo o coordenador do Colegiado de Curso da UFMG, professor João Henrique Lara do Amaral, a Odontologia promove, no momento, uma intensa discussão sobre o currículo e sobre o tipo de profissional que pretende formar. "Acreditamos no profissional comprometido com as necessidades básicas de saúde do país, um profissional que desenvolva o trabalho em equipe e que compreenda a importância do conhecimento interdisciplinar, que tenha sensibilidade para as questões sociais, que entenda o paciente em seu contexto social", ressalta o professor.

João Henrique destaca também que é preciso que o aluno compreenda, desde o início, a necessidade de assumir como seus os princípios do Sistema Único de Saúde (SUS), como o do atendimento integral ao paciente e o da eqüidade. A Odontologia movida apenas pelo atendimento particular não está mais presente na atividade da grande maioria dos profissionais da atualidade, explica. "Os desafios são maiores. A Odontologia não pode ficar alheia ao país", determina.
Eber Faioli

A estudante GRAZIELE MACIEL MATTOS conheceu, durante a viagem que fez à Amazônia, uma realidade que desconhecia

Durante o curso, Graziele aproveita oportunidades de participação em projetos de pesquisa e de extensão (iniciativas junto à comunidade) que acontecem na própria Faculdade. "Na verdade, integrar estes projetos me ajudou a ter uma formação melhor e também a entender melhor a profissão", avalia.

Não quero só dinheiro Para o coordenador do Colegiado do Curso de Odontologia da UFMG, iniciativas como a inserção do dentista no Programa da Saúde da Família (PSF), o lançamento do Brasil Sorridente - um programa do Ministério da Saúde que pretende expandir o atendimento odontológico à população, com investimentos de até R$ 1,6 bilhão até 2006 - e o surgimento da Odontologia de grupo, com convênios e associações de profissionais que oferecem atendimentos mais baratos, redesenham a atuação desses profissionais.

Mas ao mesmo tempo em que se depara com as necessidades básicas da população, o dentista é um profissional que convive com grandes avanços tecnológicos e com um apelo intenso à especialização. "Na verdade, não podemos parar de estudar", diz Gilberto Rocha Filho, 37 anos. Formado há 15 anos, ele iniciou a carreira numa fazenda de recuperação de dependentes de drogas e na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Pedro Leopoldo, na região metropolitana, onde mora. Atualmente, mantém na cidade um consultório particular e trabalha na Prefeitura de Belo Horizonte, no Programa de Saúde da Família.

"Para ser dentista, é preciso grande sensibilidade para compreender o outro. Se alguém estiver pensando só em dinheiro, pode desistir, porque vai se frustrar", garante. Segundo Gilberto, além de o custo financeiro da profissão ser alto (a manutenção de um consultório particular exige grande investimento), lidar na área da saúde, no convívio próximo com o outro, seja ele rico ou pobre, exige sempre muito do profissional.

"Muitos colegas achavam que a especialização tinha que acontecer na Faculdade, mas eu sempre procurei dominar o maior número de atendimentos possíveis", lembra, contando que sua decisão estava também pautada pela idéia de que iria trabalhar numa cidade do interior. "No interior, os dentistas não são muitos e se você é um especialista tudo fica mais difícil", afirma.
Eber Faioli

No Centro de Saúde do bairro Jaqueline, região norte de Belo Horizonte, o dentista GILBERTO ROCHA explica aos moradores que a saúde bucal faz parte de uma vida saudável

Além disso, a prática no serviço público foi uma constante na carreira de Gilberto. Hoje, no Centro de Saúde Jaqueline, na região norte da capital, ele lida com pessoas muito carentes e decidiu que não limitaria a atuação aos atendimentos no consultório. Com o apoio de lideranças locais, ele reúne adultos para uma conversa sobre cuidados com a saúde. "Junto as pessoas onde dá e falo de cuidados básicos, mas de uma maneira que elas entendam que não basta cuidar da boca, mas cuidar do todo. Tento mostrar a elas que hábitos mais saudáveis também fazem parte da busca da felicidade", ressalta.