Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular
A renovação da arte
Ao contrário do que muitos pensam, o artista não é um profissional de poucas opções e com dificuldade de inserção no mercado de trabalho. Preconceitos e estereótipos perdem terreno ante as vantagens da profissionalização, e o campo de trabalho tem, cada vez mais, crescido. Um dos sinais das transformações de conceitos e práticas na área é a mudança ocorrida no próprio curso de Artes Visuais (Belas Artes).
Segundo a coordenadora do Colegiado de Curso, professora Lúcia Gouvêa Pimentel, opções que envolvem novas tecnologias no processo artístico, já reconhecidas pela sociedade e anteriormente assimiladas pelo curso, motivaram uma intensa atualização do currículo. Uma nova porta abriu-se: a possibilidade de especialização na área de Artes Gráficas, que foi incluída entre as alternativas existentes — Desenho, Pintura, Escultura, Gravura, Cinema de Animação e Licenciatura em Artes Visuais.
Ateliê de sentidos Lúcia explica que o modelo atual do curso, que abandona o conceito de grade curricular e adota o de rede, oferece um número de disciplinas obrigatórias bem simplificado e, em compensação, uma possibilidade muito maior entre as disciplinas optativas. O aluno de determinada habilitação pode fazer disciplinas dos demais cursos. Além disso, apenas os dois primeiros períodos formam o curso básico, em que todos os alunos cursam as mesmas disciplinas. A escolha da habilitação ocorre no final do 2o período.
Foca Lisboa![]() "Uma dica importante para quem vai entrar para a Universidade: participar de tudo ajuda muito o aluno a entender o curso, aproveitá-lo mais e a se definir profissionalmente", argumenta DANIEL PEREIRA |
No início do 3o período, o leque se abre em vários sentidos, com mais de um professor trabalhando na mesma disciplina. Do 5o ao 8o período, o aluno freqüenta o ateliê de sua opção, de acordo com a habilitação escolhida, faz o projeto artístico e tem aulas práticas e teóricas que o ajudam no desenvolvimento do trabalho. Quando o aluno escolhe a Licenciatura, o ateliê tem que ser conjugado com as disciplinas pedagógicas.
Segundo a coordenadora de curso, a opção de trabalho para quem faz o curso de Artes Visuais é muito grande, por isso, os alunos se encaixam no mercado de trabalho com facilidade. "Nós sempre tivemos alunos que já trabalhavam nas áreas antes mesmo de entrarem para a Universidade", destaca.
Olhar refinado É o caso de Tarcísio Ribeiro Júnior, 43 anos. Ao fazer vestibular, em 1996, ele já havia percorrido um caminho como artista plástico, trabalhando em Belo Horizonte e outras cidades. "Antes, eu era bailarino e ator profissional, e comecei a trabalhar com artes plásticas durante a Eco 92", diz, recordando a conferência internacional, realizada no Rio de Janeiro, que definiu rumos, tratados e diretrizes de meio ambiente para o planeta. Na época, a investida foi em cenografias com materiais recicláveis, uma escolha que continua marcando sua trajetória de artista.
Tarcísio afirma que decidiu pela graduação para ampliar a visão que tinha em relação às artes. Ele acredita que esta foi uma exigência pessoal, muito mais do que de mercado. Em 1999, junto com um grupo de artistas, montou a Cooperativa Nacional Multilaboral, que assumiu a Escola Casa Aristides, em Nova Lima, na região metropolitana da Capital, a primeira instituição no país dedicada ao ensino de técnicas artísticas com materiais recicláveis. A preocupação com o meio ambiente acompanha Tarcísio, responsável por instalações que deram o que falar em Belo Horizonte, como a colocação de enormes bichos artesanais em ruas, praças e no rio Arrudas.
Arquivo Cedecom![]() Modelo atual do curso de Artes Visuais abandonou o conceito de grade curricular e adotou o de rede |
Tarcísio é também um expert em máscaras. Com ele, Daniel Marcos Pereira, 24 anos, aluno do 8o período de Artes Visuais, aprendeu a atuar como assistente de produção de adereços cênicos em peças de teatro. "Eu já lidava com maquiagem. No 4o período, a escola apertou muito, então decidi parar e me dedicar mais ao curso", lembra ele. O curso não era a primeira opção de Daniel quando ele concluiu o ensino médio. A tentativa inicial foi Teatro (Artes Cênicas). "Ainda quero fazer o curso. Vou tentar a obtenção de novo título, mas estou totalmente satisfeito com a atual escolha", afirma ele.
Durante o curso, Daniel realizou, com colegas, e individualmente, diferentes projetos artísticos, como uma intervenção na Biblioteca Central, no campus Pampulha da UFMG. "É muito interessante esse tipo de trabalho. Nossa intenção não é transformar o espaço em galeria de arte, mas incentivar os freqüentadores do local a interagirem com a arte", explica.
Para Daniel, o curso é muito importante para quem quer "refinar o olhar" e dar vazão à própria criação. "Eu sempre fui um garimpeiro", assegura, explicando o hábito que tem, há muitos anos, de buscar materiais e objetos abandonados. "A diferença é que agora eu consigo perceber muito mais o que posso fazer com todas essas coisas", conclui. Daniel acredita que nunca ficará sem trabalho, pois conta também com a versatilidade de campos de atuação. "Penso que vou continuar trabalhando com máscaras e cenários, realizando oficinas e quero também montar uma escola de artes com outros artistas", planeja.