Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular

Editorial

Entrevista
UFMG: uma instituição de ensino com responsabilidade social

Inclusão
Um portal chamado universidade

Assistência ao estudante
Antes de tudo um direito

Mundo Universitário
Os muitos olhares da graduação

Organização do Vestibular
Vestibular não é bicho de sete cabeças

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UFMG Diversa
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Outras edições

Para todo mal, há esperança

Medicina

Com a missão de perceber o ser humano como um ser integralizado, futuros profissionais têm pela frente o desafio de construir um novo modelo de promoção da saúde

No último vestibular da UFMG, a pontuação mínima para vencer a primeira etapa do curso de Medicina foi de 94 pontos, em 120 possíveis. O vestibular, porém,é apenas o início de uma longa e difícil jornada. Segundo a coordenadora do Colegiado de Curso, professora Janete Ricas, ser médico exige elevado comprometimento com o saber e, mais ainda, com as questões sociais, éticas e, mesmo, políticas brasileiras.

A Coordenadora salienta a necessidade de os futuros médicos estarem conscientes de que eles, mais do que nunca, estarão sendo preparados para assumir a saúde pública no país. Nesse sentido, diz ela, a política do Ministério da Saúde, que prevê maior incentivo à promoção, prevenção e atenção básica à saúde, além do aspecto da integralidade das ações — ou seja, uma maior harmonia de atuação entre os profissionais _, está influenciando diretamente as mudanças curriculares nas faculdades de Medicina e não tem sido diferente na UFMG.

Os candidatos aprovados no Vestibular 2006 da UFMG começarão a experimentar mudanças. A carga curricular vai crescer, em função de adequações às novas normas do Ministério da Educação (MEC). As atuais 6,4 mil horas passarão para 7,2 mil.

Rita da Glória

Mudança de postura Essa nova realidade Jalda Maria Castro Brandão, 45 anos, conhece em detalhes. Gerente do Posto de Saúde do Conjunto Santa Maria, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, há quatro anos dedica-se inteiramente à implantação do Programa de Saúde da Família (PSF), atividade que exige capacidade para planejar, gerenciar equipes e estar em contato estreito com a comunidade. Não é nada fácil, avalia, ressaltando que, muitas vezes, o médico convive com uma sensação real de impotência em áreas onde a pobreza é devastadora.

"Apesar das inúmeras e dolorosas dificuldades impostas pelas carências do serviço público, os resultados têm sido muito bons e são mais qualitativos", diz Jalda Brandão, destacando a mudança na postura de grande parte dos profissionais que estão no PSF.

Para ela, o mercado exige um profissional que tenha sensibilidade para o social, que seja criativo, aberto a novas possibilidades e que goste de trabalhar em equipe multiprofissional. "As universidades procuram fazer a parte delas, adequando a formação e fazendo valer as questões sociais que envolvem o exercício profissional", assinala a Gerente. Se o modelo de antes era "medicocêntrico", o de hoje propõe a interdisciplinaridade.
Foca Lisboa

Depois de formado, PEDRO DINIZ planeja trabalhar no sistema público de saúde

As equipes de PSF, espalhadas por todo o país, mudaram a lógica do atendimento médico no SUS. São, geralmente, formados por um médico generalista, um enfermeiro, dois auxiliares e agentes comunitários que visitam residências de uma região ou prestam atendimentos em postos de saúde.

Primeiros passos Nos dois primeiros anos do curso, os estudantes têm aulas no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), no campus Pampulha, e quase não têm contato com o campus Saúde, no centro de Belo Horizonte, onde fica a Faculdade de Medicina e o Hospital das Clínicas da UFMG.

Estudante do 10o período, Pedro Diniz, 25 anos, relata que desde o início do curso sentiu falta de um contato estreito com a própria Faculdade de Medicina e com a realidade dos pacientes, aflição, segundo ele, compartilhada pela grande maioria dos estudantes desse curso.

Esse é um dos itens que deve ser revisto pela reforma curricular que entrará em vigor a partir do próximo ano. Porém, para Rodrigo Giffoni, 19 anos, que está próximo de terminar o ciclo básico no ICB, este nunca foi um problema. "Não sinto esse distanciamento. Esse tempo é fundamental. No ICB, a gente tem uma visão ampliada das questões biológicas, do funcionamento do corpo humano e procuro aproveitar ao máximo", afirma.

Foca Lisboa

Quando disputou uma vaga na Faculdade de Medicina, há mais ou menos dois anos, RODRIGO TOBIAS GIFFONI, 19 anos, teve como recompensa o primeiro lugar geral do vestibular da UFMG

Atendimentos nos hospitais João XXIII, São Geraldo, das Clínicas e em cidades do interior fazem parte do "ciclo dos internatos", a partir do 10o período — os atendimentos ambulatoriais começam mais cedo, a partir do 5o período. Para Pedro Diniz, que se prepara para a disputa por uma vaga de residente em hospitais públicos ou privados, tão puxada quanto a do vestibular, o tempo reduzido dos internatos frustra e não ajuda os alunos a adquirir segurança. É neste momento, assinala, que temos o sofrido contato com a morte. "Você pode até estar preparado, mas vivenciar a situação é difícil", explica, ressaltando que está sendo criado, na Medicina, um Núcleo de Assistência Psicológica ao Estudante.

Após concluir a residência, Pedro Diniz planeja atuar no sistema público. "Não penso em montar consultório, porque acho que existe muita coisa para fazer no atendimento público." O estudante conta que a determinação em fazer Medicina teve muito mais a ver com o desejo de interferir em processos sociais do que com a influência do pai, também médico.

Além disso, lembra, a prática nos consultórios está difícil, por causa do empobrecimento da população e das condições impostas pelos convênios de saúde."É praticamente impossível, para quem acaba de se formar, atender sem os convênios. Os planos remuneram mal os profissionais e são caros para os pacientes".

Segundo Pedro, o candidato ao curso de Medicina deve se preparar para uma realidade. Mesmo estudando em uma escola pública, ele estará fazendo um curso que demanda investimento. "Os livros são caros, as bibliotecas não têm exemplares para todos, os equipamentos de uso pessoal também custam muito e, além de tudo, não há como trabalhar." Entretanto, garante ele, se a pessoa tem um ideal, cada minuto gasto e sacrifício com a formação valem a pena.

A residência médica é uma especialização que não é obrigatória, mas que, na prática, tornou-se uma credencial indispensável para o exercício da profissão.