Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 3 - nº. 7 - Julho de 2005 - Edição Vestibular
Se é macaco, tem que comer banana?
Pouco conhecida e, por isso mesmo, com freqüência, confundida com a Medicina Veterinária, a Zootecnia é uma área de atuação com muitas possibilidades. "Nós cuidamos dos detalhes da criação, da produção e da produtividade animal, atentando para todo o ciclo de vida. Mas quando o animal adoece, chamamos o veterinário". Com essa explicação da professora Luciana Castro Geraseev, da equipe do curso de Zootecnia da UFMG, a gente começa a entender melhor as atribuições do profissional dessa especialidade.
Faz parte da Zootecnia uma gama de atividades tão grande que certamente o aluno se surpreenderá. Além da administração da produção animal nas fazendas, granjas, empresas de agropecuária, cooperativas de criadores, laboratórios, fábricas de ração, frigoríficos, indústrias de abate, os zootecnistas podem trabalhar em órgãos públicos - como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ou a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) - e também em zoológicos.
O zootecnista destrói mitos como, por exemplo, o de que se é macaco, tem que comer, somente, banana. "Aspectos importantes para que os animais se reproduzam são a alimentação e a nutrição", diz o pesquisador Marcos Elias Traad, 59 anos, diretor do Zoológico de Curitiba (PR), lembrando ainda que no ambiente interno dos "zoos", existe uma pesquisa viva, de que participam os zootecnistas.
Sérgio Amzalak ![]() Profissional de muitos lugares e rotinas, o zootecnista está nas fábricas de ração, nas cooperativas de criadores, nos laboratórios e, até mesmo, nos leilões de animais. Na foto, leilão de Jumenta Pêga, durante a SuperAgro, em Belo Horizonte |
Campo ou cidade Para o coordenador do Colegiado de Curso de Zootecnia da UFMG, professor Luiz Arnaldo Fernandes, o zootecnista é o profissional mais capacitado para o desenvolvimento de dietas equilibradas e adequadas, para que os animais tenham, por exemplo, melhores condições de se reproduzir. Ele também está presente na comercialização da criação. "Os leilões, por exemplo, são supervisionados pelos zootecnistas", explica Luiz Arnaldo.
Segundo Marcos Traad, formado na Universidade Rural do Rio de Janeiro, o zootecnista pode se dedicar aos animais do campo ou que compõem o leque da produção agropecuária. O zootecnista pode se dedicar aos animais do campo ou que compõem o leque da produção agropecuária. A incompatibilidade não existe, por um simples motivo: "Ele está preparado para cuidar também dos animais de preservação e domésticos", ressalta Walter Motta Ferreira, um dos mais conceituados pesquisadores da área. Professor da Escola de Medicina Veterinária da UFMG, ele lembra que a primeira proposta de criação do curso de Zootecnia no Brasil, em 1957, foi feita pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Mestra e doutora pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), a professora da UFMG Luciana Geraseev diz que as oportunidades de trabalho no campo são um grande atrativo, ainda que a área rural apresente inúmeros problemas e nem sempre responda à qualidade de vida idealizada pelas pessoas acostumadas ao cotidiano urbano. "É claro que a atividade do zootecnista está mais ligada à área rural, mas de maneira alguma ela é incompatível com o profissional que vive na cidade", explica.
Eber Faioli ![]() ![]() Sérgio Amzalak ![]() |
Geração do futuro
O curso de Zootecnia estreou no vestibular da UFMG do ano passado e passou a ser o segundo de nível superior oferecido pelo Núcleo de Ciências Agrárias, que fica no Campus Montes Claros, norte de Minas Gerais. "Não existia outro curso de Zootecnia na região e faltam profissionais na área", esclarece o coordenador do curso, Luiz Arnaldo Fernandes. Na região, a pecuária é uma alternativa econômica forte e, por isso, capaz de atrair quem pretende se dedicar à produção e criação animal, num contexto bastante amplo.
Mesmo declaradamente entusiasmada com a abertura do curso em Montes Claros, cidade onde nasceu, a estudante Ana Carolina Alencar de Queiroz, 18 anos, contraria as expectativas do professor Luiz Fernandes. Freqüentando o Núcleo de Ciências Agrárias há um ano e meio, Ana Carolina pretende, ao formar-se, partir em busca de novas oportunidades nas regiões Centro-Oeste e Sul do país, onde o mercado de trabalho para o zootecnista é bastante promissor.
Expectativa Ana Carolina tem uma grande expectativa em relação à profissão que escolheu. Ela é uma dos 33 alunos da primeira turma do curso de Zootecnia da UFMG. "Eu não esperava estudar Matemática, mas também não esperava um aprendizado tão variado. Na terceira semana do curso, visitamos uma fazenda de transferência de embriões, fábricas de ração, participamos de congresso e seminários e até fomos em leilão de gado", recorda Ana Carolina. "Por sermos uma unidade pequena, temos maior facilidade de viajar, mesmo para outras regiões", assegura o coordenador do Colegiado de Curso. Segundo ele, cerca de 90% dos alunos que passaram no primeiro Vestibular são de outras cidades.
Arquivo Pessoal ![]() ANA CAROLINA faz parte da primeira turma formada pelo Núcleo de Ciências Agrárias da UFMG |
A primeira atividade externa causou a Ana Carolina um grande impacto: ela pretende direcionar o curso para a área de genética animal. "Não só eu, mas muitos dos meus colegas", afirma, prevendo um futuro voltado para o desenvolvimento de tecnologias de produção animal.
"É evidente que o profissional formado aqui, em Montes Claros, terá condições de trabalhar em qualquer lugar do mundo", garante o professor Luiz Arnaldo Fernandes. Mas ele esclarece que o curso tem uma grande preocupação com o semi-árido e está comprometido com a melhoria das condições da produção e da produtividade animal nessa região.