Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 4 - nº. 9 - Julho de 2006 - Edição Vestibular
A arte não tem fronteiras
É por isso que o curso de Artes Visuais da UFMG busca oferecer,
em seus quatro anos de duração, uma formação
ampla, com um currículo que dá liberdade para experimentar
o fazer artístico em todas as suas possibilidades. São oferecidas
seis habilitações, em Artes Gráficas, Desenho, Cinema
de Animação, Escultura, Gravura e Pintura, além da
Licenciatura, voltada para o ensino. “O aluno que entra aqui pode
combinar uma habilitação com outra. Há um número
grande de matérias optativas e o estudante tem liberdade de buscar
o que mais lhe interessa”, explica a professora Lúcia Pimentel,
coordenadora do curso. Ela esclarece que o estudante pode fazer até
três habilitações, mas não ao mesmo tempo. “Ele
pode se formar em uma e depois pedir continuidade de estudos”.
![]() Gravura de Rodrigo Fretias, um dos vencedores do Prêmio Jovem Gravadores do Mercosul |
Foi o que fez Rodrigo Freitas, 23 anos. Após se formar em Pintura,
ele pediu continuidade de estudos em Gravura. “Quanto mais ampla a
formação do artista, melhor”, diz Rodrigo, que pretende
montar seu próprio ateliê. O estudante foi um dos vencedores
do Prêmio Jovens Gravadores do Mercosul, promovido pelo governo uruguaio
no final de 2005. Das seis gravuras premiadas, quatro são de autoria
de alunos da Escola de Belas Artes (EBA) da UFMG. “O nosso curso é
considerado um dos melhores do Brasil pela produção de professores
e alunos, pela qualidade dos professores e pelas instalações
físicas”, diz Lúcia, que destaca, ainda, que o curso
conta com equipamentos e espaços para a produção. No
terceiro e no quarto ano, as atividades ficam concentradas nos ateliês,
onde os estudantes atuam com orientação dos professores.
Se a opção for pela Licenciatura, é obrigatório
o estágio supervisionado nos últimos três períodos
e o aluno deve apresentar um projeto de conclusão de curso voltado
para o ensino da arte no ensino básico. Segundo a coordenadora do
curso, a EBA tem convênios com algumas escolas e projetos comunitários
que dão aos estudantes a oportunidade de oferecer oficinas e levar
a proposta artística para as comunidades. “É muito importante
pensar o papel do artista na sociedade”, comenta a professora, que
calcula que aproximadamente 80% dos estudantes da UFMG estejam envolvidos
com projetos sociais.
Letícia Pontes, 27 anos, descobriu a Licenciatura durante o estágio
no projeto Formação Continuada de Professores, uma iniciativa
gratuita, que oferece cursos para professores da rede pública, a
partir de temas como Física, Química, Biologia e Astronomia.
“A experiência despertou meu interesse pela área de educação”,
recorda Letícia, que já cursava a habilitação
em Cinema de Animação. Como Rodrigo, ela pediu continuidade
de estudos, para se formar também em Licenciatura. “Quero conciliar
as duas áreas”, declara a estudante, que foi selecionada pela
TVE Brasil e pelo Ministério da Cultura para realizar um curta-metragem
de animação voltado para o público infantil sobre o
tema Meu melhor amigo. O nome do curta é Decolando e mostra a amizade
entre um garotinho e seu cão. Os dois formam uma dupla bastante unida
e um apóia o outro tanto nos momentos de alegria e de tristeza.
![]() Cena do curta-metragem Decolando, de Letícia Pontes |
Segundo a professora Lúcia Pimentel, existem muitas possibilidades de atuação para o profissional formado em Artes Visuais. “As empresas de Publicidade sempre precisam de alguém com formação em artes para cuidar da criação gráfica. Existem empresas de Engenharia que contratam artistas para dar o tom de determinados projetos”, diz. O profissional também pode encontrar espaço em televisão, rádios, gravadoras e serviços de editoração.
Para quem se interessar em seguir o exemplo de Letícia, a estudante
diz que a animação no Brasil não tem um mercado bem
estruturado, o profissional é que tem que conquistar o seu espaço.
Para isso, é bom ficar atento aos concursos criados pelo governo
e às seleções para mostras de cinema, como o Anima
Mundi. A estudante também lembra que é fundamental dominar
desde cedo os programas de criação gráfica para facilitar
essa busca. Já na área de Licenciatura, quem se forma muitas
vezes começa a dar aulas antes mesmo de terminar o curso, uma vez
que o número de professores formados em Artes ainda é reduzido.
Como Rodrigo, muitos estudantes querem se formar para trabalhar em seus
próprios ateliês. Erli Fantini, 61 anos, formou-se em Belas
Artes (antigo nome do curso) em 1971 e hoje tem um ateliê em Belo
Horizonte e outro em Piedade Paraopeba. A artista começou a trabalhar
ainda quando era estudante na Feira de Artesanato que acontecia na Praça
da Liberdade. “Era tudo muito livre, cada um esticava sua esteira
na grama e vendia seus produtos. Foi um momento muito importante para mim”,
relembra. Hoje, ela trabalha com cerâmica e escultura, realiza exposições,
dá aulas na Faculdade de Ouro Preto e ministra cursos nos finais
de semana, além de dar oficinas em seu ateliê. Há dez
anos, Erli também organiza uma feira para ceramistas no bairro Santa
Tereza, Belo Horizonte, que já virou tradição. Seu
projeto mais recente é uma exposição que traz como
tema as construções e habitações urbanas. “É
uma cidade imaginária que já criei e agora vou desenvolver
em tamanho maior”, conta. Para realizar o projeto, Erli conseguiu
o apoio de uma lei de incentivo, o que prova que é preciso ficar
de olho nas oportunidades. “O mercado está difícil para
os artistas, a competição hoje é maior, mas se você
fizer um trabalho sério, com pesquisa aprofundada, consegue espaço”,
garante.