Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 4 - nº. 9 - Julho de 2006 - Edição Vestibular


Editorial

Educação para desenhar o futuro

Entrevista
Resposta às demandas sociais

Extensão e pesquisa
Conhecimento público e para o público

Empreendedorismo
Aprendizes de feiticeiro

Assistência ao estudante
As invisíveis barreiras da educação

Internacionalização
Janelas para o mundo

Ciências Agrárias
Agronomia
Medicina Veterinária
Zootecnia

Ciências Biológicas
Ciências Biológicas

Ciências da Saúde
Nutrição
Educação Física
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Farmácia
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Ciências Exatas e da Terra
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Engenharia Metalúrgica
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Artes Visuais
Letras
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UFMG Diversa
Expediente

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Entrevista

Respostas às demandas sociais

Ronaldo Tadêu Pena

Ronaldo Tadêu Pena, 58 anos, professor titular do departamento de Engenharia Eletrônica, está no início de seu mandato como reitor da UFMG. No entanto, sua história com a Universidade é longa: ainda muito jovem, começou a cursar o último ano do Colégio Universitário. Desde então, foi chefe de Departamento de Engenharia Eletrônica, diretor da Escola de Engenharia, coordenador do curso de Engenharia de Controle e Automação e, nas duas últimas gestões da reitoria, pró-reitor de Planejamento. Nessa entrevista, ele fala sobre o que é ser reitor, apresenta a UFMG, discute as formas de avaliação do vestibular e reflete sobre a participação dos estudantes em sua gestão.

Diversa — Quais são as funções do reitor da UFMG?


São funções políticas e administrativas. No campo político, ele representa a instituição. Então, se recebemos a visita do Ministro da Saúde, por exemplo, eu devo estar lá, representando a UFMG. Além disso, é papel do reitor falar em nome da Universidade, ajudando a responder questões pertinentes à sociedade, que afligem as pessoas. No campo administrativo, que envolve a gestão, o reitor é o responsável pelo funcionamento da instituição. Para que a Universidade funcione, é preciso que haja infra-estrutura adequada, prédios, bibliotecas, equipamentos, salas de aula, laboratórios, tudo em bom estado de conservação. Isso demanda recursos. Responder pela provisão desses recursos e coordenar sua distribuição são atribuições do reitor. O reitor é um animador, no sentido original da palavra animar. Ou seja, aquele que, de certa maneira, provoca a vida da universidade, quer dizer, que reúne as pessoas, que estimula a proposição de novas atuações, que provê os recursos para viabilizar projetos.

Diversa — Mas como o reitor pode “provocar” toda a Universidade? Como fazer isso em todas as áreas do conhecimento, simultaneamente?

Evidente que o reitor só pode fazer alguma coisa na medida em que sejam formulados e apresentados os projetos de cada área, afinal, ele não é especialista em todas as áreas. Ele enxerga a universidade como um todo, mas não domina integralmente todos os detalhes. O reitor é quem busca afinar os interesses e posturas de cada segmento. Por isso, defendo o contato com os estudantes. Eu, como professor, sempre busquei essa aproximação. Eu nunca saí da sala de aula, e mesmo agora, como reitor, estou tentando conciliar meu horário para conseguir conduzir uma disciplina. É algo que me alimenta, essa comunicação com os estudantes. Na sala de aula, busco despertar o interesse dos alunos. Afinal, a aula tem que ser boa para o aluno querer ir. E, claro, a Universidade também.

Diversa — Foi por isso que na sua gestão foi criada a Diretoria de Assuntos Estudantis?

Sim. Os estudantes têm um papel importante e queremos ouvir suas idéias. A Diretoria de Assuntos Estudantis foi criada como um espaço de troca de idéias, de encontro, de integração. Na minha opinião, o movimento estudantil está encurtando suas metas. Quando eu estava na graduação, havia um grande inimigo, a ditadura, e as lutas eram pela liberdade, pela democracia. Hoje, a meta é fazer festas na Universidade. Nada contra as festas; em minha gestão vai haver festas no campus (campus Pampulha) e por isso estamos, em parceria com os estudantes, trabalhando em uma regulamentação. Mas a realização de festas não pode ser a meta do Movimento Estudantil. Acho lastimável também ver os estudantes lutando contra a contribuição ao fundo de bolsas da Fump, recurso usado para viabilizar a permanência dos estudantes carentes na Universidade. A lógica deve ser da solidariedade, quem pode pagar ajuda os que não podem.

Diversa — Qual é a UFMG que o futuro aluno, o “calouro”, vai encontrar?

Rigorosamente, uma universidade de primeira linha, em todas as áreas; que tem contatos internacionais, praticamente, em todo o mundo. Quem tiver interesse e dedicação, as chances de fazer um intercâmbio internacional são grandes. Do ponto de vista acadêmico, há muitas oportunidades. Contamos com laboratórios de pesquisa e atividades de extensão, e o estudante pode se envolver em projetos junto com os professores,que são todos altamente qualificados. Somos, também, pioneiros na implementação da flexibilização curricular, que promove o diálogo entre as áreas de conhecimento. As possibilidades são inúmeras e o estudante pode ser o protagonista. Além disso, a própria estrutura física da Universidade, o ambiente, é muito agradável. É um mundo de descobertas para quem entra para a UFMG.

Diversa — Flexibilização curricular. Como traduzir esse conceito para quem ainda não chegou à Universidade?

Há dois aspectos a ser destacados. Um, que podemos chamar de flexibilização horizontal, é aquele que privilegia atividades fora da sala de aula como parte importante na formação do estudante. Por isso, aqui, na UFMG, atividades de iniciação científica, de participação em congressos e em projetos de extensão podem valer créditos, ou seja, contam pontos para obter o diploma. A outra é a que chamamos de flexibilização vertical, que é a que reorganiza a estrutura curricular de cada curso. Assim, passamos a ter um núcleo de disciplinas de formação específica, com conteúdo próprio de cada área, o essencial para uma formação profissional dentro dos parâmetros legais, que permitam o exercício competente da profissão. Há, ainda, a formação complementar, que possibilita o diálogo entre as áreas. Assim, um estudante de engenharia que se interesse por comércio exterior pode cursar disciplinas relacionadas. Há, muitas vezes, dentro de uma mesma área, várias possibilidades de formação complementar. E, por fim, há a formação livre, que fica a gosto do estudante, que tem liberdade de cursar disciplinas em qualquer área. O resultado é que o estudante pode compor seu próprio perfil profissional. Claro que se ele sentir dificuldades, pode contar com a orientação dos professores para pensar sua formação. Essa é uma das grandes vantagens de estar em uma instituição de ensino como a UFMG.

Diversa — O reconhecimento da UFMG como instituição de excelência não acaba por afastar potenciais candidatos que, temerosos da concorrência, acabam desistindo de prestar vestibular…

Sem dúvida, o desafio de passar no vestibular é grande. Não é um desafio para pessoas que desistem no primeiro tombo, na primeira dificuldade. É preciso muito estudo, muita dedicação, persistência, principalmente no caso daqueles que passam por problemas financeiros e precisam conciliar estudo e trabalho. A Universidade deve se preocupar em garantir que os critérios de seleção sejam os mais justos possíveis, para possibilitar maior inclusão.

Diversa - O senhor abordou um assunto polêmico: a inclusão social. Quais mecanismos o senhor considera mais eficazes para ampliar o acesso à Universidade?

O processo começa com a própria avaliação. Não podemos fazer seleção socioeconômica. Por isso, fazemos análises das provas de concursos anteriores e com bases nos dados que levantamos a cada vestibular, verificamos se há questões que tiveram índice de acerto maior entre pessoas de classes sociais mais favorecidas, o que indica que a questão apresentou um viés na sua formulação. Outra medida é a indicação de livros do vestibular com três anos de antecedência, ou seja, os que vão ser cobrados em 2006, 2007 e 2008. Isso permite que as bibliotecas e escolas públicas tenham mais tempo para a aquisição. Outra idéia que tenho é transformar a prova de línguas em eliminatória e não classificatória, quer dizer, ela não contaria pontos. Mas claro, essa é uma idéia que tem que ser discutida.

Diversa — Mas e em relação às cotas? Qual a opinião do senhor?

O vestibular é uma linha de chegada. Portanto, é necessário analisar a pista em que cada um correu, o histórico. Há quem correu em uma pista sem acidentes, mas existem também aqueles que tiveram pela frente uma estrada cheia de desvios e buracos, sem sinalização ou acostamento. O que eu estou querendo dizer: nos cursos muito concorridos, como Medicina, há uma grande concentração de estudantes de escolas públicas entre aqueles que, por dois ou três pontos, não foram classificados. Quer dizer, quase chegaram lá. Não sou a favor de uma política de cotas simplista, que reserve vagas sem pensar na qualidade da formação do candidato, mas acho viável reservar parte das vagas para essas pessoas que fizeram uma pontuação alta e, ainda assim, ficaram de fora.

Diversa – O senhor tem alguma sugestão de como fazer?
Sim. Por exemplo, se são 320 vagas para o curso de Medicina da UFMG, classificaríamos 240 por ordem de pontuação e as outras 80 vagas reservaríamos para esses candidatos de escolas públicas que tiveram menos condições e, ainda assim, fizeram pontos suficientes para passar. É uma solução que leva em conta a pista em que cada um correu, que reconhece o mérito dos que, mesmo com dificuldades, se esforçaram, deram o melhor de si. Mas esta é ainda apenas uma idéia que deve ser estudada, debatida com toda a Universidade, especialmente com a Faculdade de Medicina.

Diversa — Esse modelo poderia ser adotado em todos os cursos?

Não. É preciso que seja feita uma análise específica por curso. E, é claro, esse estudo deve ser feito em parceria com a coordenação dos cursos. Agora, além de aumentar o acesso, é preciso garantir a permanência desses estudantes. Aí, contamos com uma rede de proteção ao estudante carente, baseada no conceito de solidariedade. Os estudantes fazem semestralmente uma contribuição mandatória ao fundo de bolsas da Fundação Universitária Mendes Pimentel, a Fump, e esse recurso é destinado a apoiar os estudantes que não têm condições financeiras, oferecendo ajuda de moradia, alimentação, assistência médica e odontológica, livros, acesso a computadores, enfim, condições básicas para que o estudante consiga se manter. Há quem seja contra, mas volto a insistir: a lógica é a da solidariedade, quem pode pagar ajuda os que não podem.

Diversa — O vestibular é, na opinião do senhor, a melhor forma ou processo para garantir o ingresso dos estudantes na universidade?

Existe o processo do exame feito a cada ano, durante o ensino médio, mas eu não acredito nesse modelo, pela desigualdade que existe entre as escolas. Então, pelo menos enquanto durar essa situação, em que há mais candidatos do que vagas, eu não vejo outra forma do que um vestibular que esteja sempre se renovando. Temos que abrir discussões e trocar idéias, porque certamente existem muitas alternativas sendo testadas, estudadas, no Brasil e no exterior.