Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 4 - nº. 9 - Julho de 2006 - Edição Vestibular
Olho clínico para a vida
Formar-se em Medicina não é tarefa fácil ou rápida.
Durante seis anos, os estudantes têm aulas em período integral
e nos últimos períodos do curso enfrentam plantões
à noite e nos finais de semana. A graduação, que valoriza
uma formação ética e humanística, permite ao
estudante tornar-se um médico generalista. A escolha da especialidade
acontece mais tarde, na residência.
Do 1º ao 4º período, a maioria das disciplinas são
oferecidas no Instituto de Ciências Biológicas (ICB), que fica
no campus Pampulha, além de algumas aulas na Faculdade de Medicina,
no campus Saúde, na região hospitalar da capital mineira.
Para Pedro Vasconcelos Poggiali, 21 anos, estudante do 2º período,
o curso é “puxado” e exige, desde o começo, dedicação
exclusiva. “Com certeza estou estudando muito mais do que na época
do vestibular”, relata Pedro.
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Ainda na graduação, os alunos aprofundam os conhecimentos
em cinco áreas básicas: Cirurgia, Clínica Médica,
Ginecologia e Obstetrícia, Pediatria e Saúde Coletiva. Em
cada uma dessas áreas, o aluno faz internato durante três meses.
O coordenador do curso explica que os internatos são como atividades
intensivas de treinamento nas quais os estudantes passam o tempo todo em
contato com a prática. Uma dessas experiências é o Internato
Rural, na área de Saúde Coletiva, realizado em uma cidade
do interior de Minas Gerais. “O contato com essas comunidades, na
sua maioria muito carentes, acrescenta muito à formação
profissional e humana dos estudantes. É bem diferente da realidade
das grandes cidades, como Belo Horizonte”, conta Paulo Marcos Brasil,
26 anos, residente em Psiquiatria. Quando era aluno, Paulo Marcos fez esse
estágio na cidade de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha,
uma das regiões mais pobres do Brasil.
Hospitais-escola Lugar é que
não falta para os alunos de Medicina vivenciarem a prática
profissional. Além do Hospital das Clínicas da UFMG, que fica
ao lado da Faculdade de Medicina, o curso mantém convênios
com uma extensa rede de hospitais públicos e privados de todo o estado.
Uma das principais parceiras é com a Prefeitura de Belo Horizonte,
responsável por todos os postos de saúde da cidade.
![]() Pronto-Socorro de Venda Nova abrirá novas perspectivas de aprendizado para os alunos |
A partir de junho deste ano, mais um hospital foi incorporado a essa estrutura.
A UFMG, por meio da Fundep (Fundação de Desenvolvimento da
Pesquisa), assumiu a gestão do Pronto-Socorro Risoleta Tolentino
Neves, em Venda Nova, região metropolitana de Belo Horizonte. O coordenador
do curso, médico e professor André Luiz dos Santos Cabral,
acredita que a participação dos alunos nos atendimentos deverá
se dar a partir do segundo semestre de 2006. “É um excelente
campo de estágios para alunos, mas não só de Medicina.
Vários cursos da área de saúde da UFMG também
se incorporarão ao projeto de atendimento”, avalia.
No curso de Medicina da UFMG, o contato dos estudantes com os pacientes
se dá a partir do 5o período. O coordenador do curso, André
Luiz dos Santos Cabral, explica que os estudantes participam dos atendimentos
nos hospitais conveniados e centros de saúde. “A nossa estratégia
pedagógica também passa pelo aprender-fazendo”, afirma
o professor. Para Paulo Brasil, esse contato é muito importante,
pois prepara o estudante para as situações concretas da profissão.
“Freqüentemente o profissional se depara com situações
de angústia, sofrimento e morte e é preciso estar pronto para
esses momentos”, relata.
Outro aspecto positivo da prática ainda durante a graduação
é o relacionamento entre médico e paciente. Paulo Brasil,
que atualmente trabalha no Hospital da Previdência, em Belo Horizonte,
acredita que é preciso construir um vínculo terapêutico
com os pacientes para que exista confiança entre o médico
e aqueles que são assistidos por ele. “Se não há
esse vínculo, o paciente sai cheio de dúvidas e o tratamento
não corre bem”, explica.
O coordenador do curso, André Cabral, explica que emprego não
falta, mas os médicos têm que realizar longas jornadas de trabalho
e muitas vezes o salário não é muito compensador. No
interior, normalmente a remuneração é melhor, mas é
consenso entre a maioria dos profissionais que longe das capitais as condições
de trabalho são mais precárias. Esse é um dos motivos
que levam 62% dos profissionais do estado a trabalharem nas capitais, segundo
pesquisa do Conselho Regional de Medicina-MG. Outra realidade na profissão,
é que o médico autônomo está quase em extinção.
Ou são funcionários públicos ou dependem dos convênios
com as seguradoras e planos de saúde.
Para o estudante Pedro Poggiali, mesmo com todas essas questões,
fazer Medicina vale a pena. Filho e irmão de médicos, ele
conta que não se imagina fazendo outra coisa. Pensou até em
desistir depois do segundo ano de pré-vestibular, mas a vocação
falou mais alto. Para quem ainda está na maratona do vestibular,
ele deixa uma dica: “Não se assustem com a concorrência.
Depois de tanto esforço, a recompensa é grande e valiosa”.