Revista da Universidade Federal de Minas Gerais
Ano 4 - nº. 9 - Julho de 2006 - Edição Vestibular
Milhões de anos a decifrar
O geólogo torna-se, antes de tudo, um contador de histórias, de histórias do Universo. Pensar em Geologia, é refletir sobre os fenômenos que se desenvolvem no tempo. Quem se dedica a este desafio está pronto a narrar uma história de milhões de anos.
De quem se habilita a explorar a Geologia, exige-se uma boa pitada de curiosidade, de encanto por descobertas e gosto por se aventurar, sem muito se importar com o conforto da vida contemporânea. Muito mais que juntar as Ciências Exatas com as Biológicas e fazer inúmeros trabalhos de campo, “a Geologia traz para o aluno uma visão diferente de mundo”, explica o coordenador do curso, Luiz Guilherme Knauer. Receita que parece reunir os ingredientes certos, pois, segundo Knauer, “há anos que não surgem vagas no meio do curso porque quem entra não desiste”.
![]() Aluno usa o teodolito, instrumento utilizado em levantamentos topográficos e geofísicos |
O curso inicia-se com aulas no Instituto de Ciências Exatas (ICEx).
É lá que, nos primeiros quatro semestres, o aluno aprende
e se surpreende com as noções básicas da Matemática,
da Química e da Física. “São disciplinas que
exigem dedicação.Isso tudo, aliado ao fato de não estarmos
adaptados à rotina universitária”, lembra Matheus Kuchenbecker,
20 anos, aluno do 5o período.
O deslocamento das aulas para o Instituto de Geociências (IGC) acontece,
mais ou menos, como a deriva dos continentes – aos poucos. Desde o
princípio, são oferecidas no IGC disciplinas relacionadas
à Geologia. Já no 2o período, os alunos têm o
primeiro trabalho de campo – exercício fundamental, que funciona
como laboratório: os estudantes exercitam seus conhecimentos e aprendem
a atuar em grupo. “Quem não se dá bem em grupo dificilmente
vai conseguir fazer o curso. No trabalho de campo você tem que confiar
em quem está junto com você”, explica o coordenador do
curso. Luiz Guilherme afirma, ainda, que o trabalho de campo favorece a
integração professor-aluno: “o envolvimento nas viagens,
quando todos ficam acampados juntos, aproxima as pessoas”, explica.
Isso porque, no início, os trabalhos de campo duram quatro dias,
mas ao final do curso podem durar 15 e até 30 dias. “Nos trabalhos
de campo podemos ver na prática tudo o que aprendemos em teoria.
A sensação de se chegar num afloramento rochoso e analisar
fatos ocorridos há milhões de anos é única e
para quem gosta de andar no mato, fazer trekking, acampar, é uma
experiência extremamente gratificante”, conta o entusiasmado
Matheus.
Mundo gira Dependendo da disciplina e do professor, existe a possibilidade de viagens para o Espírito Santo, Bahia, sul ou norte de Minas Gerais. Segundo o coordenador do curso, “Minas Gerais é um paraíso do ponto de vista geológico, principalmente a região de Diamantina, utilizada por 15 dos 19 cursos de Geologia do Brasil, por ser uma situação-padrão geológica. E a melhor das notícias é que em Diamantina funciona o Instituto Casa da Glória, pertencente à UFMG”.
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Para Fernanda Souza, 25 anos, formada em 2005, os dados coletados em campo
são a base de todo o trabalho e é a partir deles que se chega
aos resultados finais. Ela trabalha como geóloga-geotécnica
em uma empresa que estuda possibilidades de implantação de
minas (unidades de extração mineral). “Estive na África,
no Gabão, onde realizei um estudo para a implantação
de uma mina de manganês. Foi maravilhoso! Além do convívio
numa cultura diferente, ganhei uma experiência profissional muito
boa para a minha carreira que ainda está no início. Fiquei
lá por 40 dias e estou retornando para ficar mais 40”.
No mercado, parece não existir desemprego, principalmente nesse momento.
“Praticamente todos os estudantes que se formaram comigo foram contratados
em menos de três meses”, diz Fernanda. O professor Luiz Guilherme
Knauer explica que são poucos os cursos e os formados são
rapidamente absorvidos pelo mercado. Além disso, destaca o coordenador
do curso, o governo está investindo muito em mapeamento básico
e na Petrobrás, além da importância dada hoje ao meio
ambiente e em recursos hídricos, o que garante mais empregos.
Os geólogos também trabalham na expansão de cidades.
Belo Horizonte é um exemplo por causa do seu relevo acidentado –
onde há interação do homem com o espaço físico,
construções e uso do solo e subsolo, lá está
o geólogo. Uma característica da profissão é
o trabalho em conjunto com outros profissionais: engenheiros, arquitetos,
geógrafos. Por isso, é necessário haver interação
e muita comunicação. “Muitas vezes o geólogo
tem uma linguagem difícil de ser entendida. É até engraçado
ver um geólogo conversando com um engenheiro”, diverte-se Luiz
Guilherme.